Entre as feras - Barduk!!

O general se lembra de alguns flashes de consciência depois do feroz combate contra o demônio. A junção dos inimigos, a traição zhentarin, prevista mas não evitada, custou demais, vidas demais, perigos demais. Sua memória ia e vinha entre os momentos, vendo cada um dos seus se desfazendo em poeira, e se perguntava se teria sido um sonho, um terrível pesadelo, ou a cruel realidade da convergência de cada escolha, cada caminho dos Andarilhos até aquele momento.

Fosse como fosse, algo, ou alguém, o protegeu. Ainda sentia uma certa aflição, o corpo se desfazendo em poeira, e a sensação só passava quando olhava firme para suas mãos,sentindo-as sólidas, os dedos firmes.

De relance pôde ver o clarão de um celestial pairando sobre o campo de batalha no final de tudo, selando o fim da influência extra-planar naquelas terras. Parecia ser Aiolos. Só parecia...

Então a voz, aquele ser que o protegera, a condensação das areias do tempo, passado e futuro se juntando contra o poderoso demônio, senhor daqueles que pensaram estar por trás de tudo. A lembrança das cabeças em sua cintura, amarradas pelos cabelos. Até mesmo a do xamã entre elas. Quem estivesse por trás de tudo aquilo sofreu uma terrível derrota, mas mostrava-se muito mais forte do que pensavam. Capaz de conjurar uma besta com tamanho poder, e manipular tão facilmente tantas forças, anões e homens, goblinóides e orcs, drows e zhentarins...

Barduk tinha certeza de ter tido um breve vislumbre das peças, mas sabia que estava bem longe de visualizar o tabuleiro, ou as mãos que empurravam cada peça. era um jogo muito mais perigoso, muito mais ardiloso, jogado por alguém alheio a sacrifícios, e que não se importava com as baixas, seja de qual lado for.

Então o general se vê nu, diante das misteriosas margens de um largo rio. A vontade em atravessá-lo o fazia dar os primeiros passos, mas cada vez que esticava o pé na direção da água...

"Não!"

Outra vez...

"Não!"

E mais uma vez...

"Não!"

Era sempre a mesma voz, era o vento em seus cabelos e sua barba, era o toque da terra sob seus pés, o som das águas entrando em seus ouvidos. Tudo, uma cadenciada unidade de sensações que o traziam àquele momento.

Passos nas águas... contornos formados pelo vento partindo a água em sua passagem. Eantos, que cruzavam aquele rio em direção ao outro mundo. Tantos dos seus...
Estende as mãos...

"Não!"

Deixa-os ir, era a jornada DELES, e não a sua.

Então dá as costas ao rio, o coração se enche de tristeza. Mas o vento frio da morte, que corta o ar, dá lugar ao calor da vida. Cada passo pra longe dali, afastando-se daquelas margens, o enchia de mais força, de mais vontade de continuar.
Tantos rostos se apagavam em sua memória, tantos que partiam, sendo esquecidos, dando lugar a tantos que ficavam, rostos guardados, gravados em ferro quente nas entranhas de suas lembranças.
Sua família... seus amigos... os Andarilhos...

Cada rosto, cada nome lhe dava mais força, mais impulso para continuar, e o calor só aumentava até a escuridão da noite eterna dar lugar ao brilho do amanhecer...

Além do horizonte...

Os olhos se abrem.

*o anão queria se sentir reconfortado pelas palavras do elfo, mas estava longe disso, essa tinha sido sua maior derrota até o momento. O sorriso amarelo novamente. Uma voz rouca e grave*
-obrigado. Agora vocês vêm comigo?

O elfo manda Uther ir atrás de Michael, e quando ele se afasta, o elfo fala:
- Toda derrota é amarga. Aprenda com ela, engula seus erros e fortaleça seu espírito. Você é um bom líder, mas centraliza demais o comando em si. Quanto mais homens tiver, mais difícil será conhecer a todos. Divida suas forças. De-lhes um propósito, e tempo pra cumpri-lo. Não os mantenha inertes. Você é o cérebro, não o chicote. Não erre como os homens.

*o mais duro para o anão era saber que o elfo estava certo. BArduk dá os primeiros passos pensativo, mas olha a fundo o horizonte. Um passo depois o outro. O primeiro é o mais difícil, depois um a um vão se tornando mais fáceis.*

No meio de uma pequena trilha, Barduk se vê de encontro a Michael e Dorin (o sacerdote a serviço da Erel).
Ambos o cumprimentam, ávidos por vê-lo bem, ávidos por notícias e por saber o que andou acontecendo.
Havia muito a fazer, muito a ser dito e muito a ser colocado.
Sem esperar permissão de seus anfitriões, Michael pega uma pedra enlameada no meio da trilha, e depois de dizer algumas palavras, atira-a ao lado, onde um enorme volume se levanta, na forma de uma cabana. O Mago especializara-se naquela magia, mesmo Barduk já desfrutou antes de sua conveniência.
Ele diz:
- Um lugar onde podemos conversar sem que ouvidos sorrateiros nos escutem.

Abrindo a porta, ele indica ao general que fizesse as honras.

Assim que entra, Barduk vê sua capa ser retirada por mãos invisíveis. Nem mesmo Uther se contém e decide experimentar.
Depois de um longo relato dos eventos, da luta, da resolução de tantos e esparsos conflitos num só lugar, a memória ainda viva na mente, o general ia se sentindo cada vez mais aliviado, cada vez mais leve.
O peso das baixas, a culpa pela derrota, vai dando lugar à percepção dos erros. Informações sempre "esperando para ser contadas", e o momento nunca vinha, e as coisas aconteciam sem que o conhecimento fosse compartilhado.
Uma ponta de raiva crescia. Tantos segredos carregados, More e seus planos individuais, Henri, submisso talvez demais, e Finn, poderoso e misterioso.
Cada um teria muito a dizer, a explicar.

Ao final de uma refeição digna, o general se vê em um pequeno cômodo onde, enfim, tinha a chance de um bom banho. Mãos invisíveis o ajudavam com armas e armadura. Não havia peso sobre os ombros.
O general se apruma numa larga bacia de água quente, deixando que a dor desaparecesse.

Entregue ao descanso, o general tem um sonho cheio de simbolismos e mistérios. Visões de um outro tempo, uma outra vida, talvez.
Um sacerdote-rei, um homem poderoso olhando de seu grande trono de mármore um palácio todo feito em pedra rebuscada e ricamente trabalhada. E mesmo dali, podia ver através de grandes arcos o lado de fora, onde incontáveis homens, seu exército, protegia uma cidade maravilhosa, mas onde além dos muros altos e seguros, um grande número de pessoas padecia, escravizados e miseráveis, trabalhando duro na coleta de recursos e bens.
Era um sonho, mas também era um passeio por aspectos daquela vida diferente, repleta de regalias, luxo e riquezas.
Aos pés de seu trono podia ver ainda alguns de seus generais, seus imediatos em comando, um forte guerreiro equipado com uma armadura de couro leve, uma mulher de vestes arcanas e um homem mais velho em roupas de sacerdote.
Este último se assemelhava à figura que o protegeu do grande demônio, aquele que convocou as areias do tempo e virou a balança da derrota a seu favor.

Ao reconhecê-lo, o vê tornar-se a figura terrível, imortal e poderosa que pôs fim ao combate, e o general desperta de seu sono, um misto de repouso e uma mensagem do além, talvez.
Ao se ver no reflexo das águas, não era mais o rosto do velho Barduk que estava ali, mas o do velho sacerdote.
Era o SEU reflexo?

*no banho o anão segurava o anel dos arpistas, rodando-o entre os dedos. O peso dos dias estava diminuindo, mas sua cabeça continuava um turbilhão*
''Havia um duplo de Gurag, agora há um duplo de mim?''
-MICHAEL? MICHAEL?

*O anão esconde o anel em sua mão antes que o mago o visse, mesmo imaginando que de alguma forma ele desconfiasse. E então conta seu sonho enquanto se enxugava e pegava roupas limpas para se vestir*
-um duplo meu? assim como um duplo do casca de orc? o que está havendo? eu mesmo salvei minha pele?

Michael demora a entender o que acontecia, e por fim ele diz:
- Há relatos de passagens nestas montanhas, seres que estão vagando por um mundo que chamam de "umbrático", uma réplica do nosso, só que mais obscuro. É como uma parte superficial do plano astral, onde vivem as idéias, medos e pensamentos. Gurag manipulava estas forças de maneira desmedida. Pelo que você relatou, parece que você teve uma recordação de uma outra vida, ou a vida de alguém deste outro mundo que se ligou a você. Ele talvez queira lhe dizer algo. seria preciso meditar a fundo nas imagens e tentar falar com ele.

-vai ser uma noite longa.
*o semblante do anão era de receio, beirava o medo. Apesar de impressionado com o que o mago falava. Era diferente tentar se comunicar com algo assim,muito diferente so que pedir apoio ou as bênçãos de seu clero. Barduk não havia sido criado nas igrejas, seu espírito e sua fe foram forjados no campo de batalha. Por onde começar? Como começar? Iria se alimentar antes de qualquer coisa, mas seria feito esta noite.

Barduk sente a leveza do conforto proporcionado pelo tempo na cabana. Ter a constante assistência de um "Servo Invisível", um pequeno elemental do ar cuja força retira todo peso das armas e da armadura, deixando-o livre pra se preocupar com outras demandas.
Vê quando Michael designa o ser para seus serviços, mandando que o assista em suas demandas enquanto o mago põe-se a estudar poderosos feitiços.
Dorin tentava, sem sucesso, obter qualquer informação sobre os grupos, tão ou mais desapontado que você por ter sido mandado para longe da ação bem quando as coisas esquentaram.
Barduk via o desperdício de potencial na má liderança de More, e começava a entender a resistência da comunidade criada em aceitar seu comando. Percebia tantas falhas na cadeia criada pelo drow que era imperativo intervir, pois eram uma porta aberta a qualquer inimigo, como já aconteceu tantas vezes na história do grupo, e agora mais do que nunca, com a evasão dos zhentarins.
Os reis haviam escapado, mesmo que o drow tenha sido assassinado pelos próprios, razões que ainda desconhecia, o desertor da corte e o poderoso feiticeiro fugiram assim que as coisas apertaram. Podiam estar em qualquer lugar, já que não tinham mais uma base ali.
Barduk também se perguntava a relação dos drows que investigavam as terras ao norte com os zhentarins. Percebia que os Reis desconheciam sua presença, e ainda não sabiam que a torre fora perdida muito antes da chegada do grupo às terras. E a revelação de que Boven liderava os inimigos mudava completamente a história de seu assassinato. Talvez os zhentarins verdadeiros tenham vindo para expurgar as terras, e por isso os drows escondidos na torre fugiram.
Seriam os falsos caçadores de vampiros agentes da Fortaleza Negra?

Muitas perguntas sem resposta, e agora esta ligação espiritual com uma poderosa força do passado, a quem talvez Wong pudesse ajudar a esclarecer... se não estivesse ele mesmo desaparecido.

O elemental aguardava suas ordens.Tinham apenas mais algumas horas de segurança antes que a cabana perdesse sua força.
Off: Poste seus preparativos e o que pretende alcançar. O resultado será descritivo.

O círculo de sal, a cadeira e nada além de seu símbolo sagrado eram a única proteção, ou algo bem próximo disso, que Barduk portaria na mais incomum de suas buscas.
Taumaturgia não era seu ponto forte, mas ao menos tinha Dorin para ajudá-lo. Ele o assistia no que era possível, mas depois de selar o círculo, sabia que estaria sozinho.
As palavras fluem. Moradim lhe concedia a sabedoria de ordená-las da maneira certa.
Mas no fim da invocação...

"Não!!"

A mesma voz, o mesmo sentimento de desolação. Cada vez que ouvia aquela palavra, sentia um abismo se abrir no peito. Abandonado.

Sente as mãos úmidas, mas ao esfregá-las, percebe que era o contrário. Estavam cheias de areia. Fina e seca poeira, como se suas mãos tivessem acabado de sair do mais quente dos desertos.

Sente o calor da poeira entre os dedos, uma dor incômoda, mas por mais que as esfregasse, apenas mais areia aparecia.
Talvez fosse algum indício da criatura que o acompanhava. Talvez fosse um sinal de sua identidade.

Então sente as pernas fraquejarem, mesmo sentado, e escorrega da cadeira, apenas para cair sobre um chão de pedra perfeitamente lapidada, calcário nobre, um trabalho feito por homens, mas que faria até o mais bravo anão se admirar.
E à sua frente estava novamente o enorme trono de pedra com afrescos e símbolos que desconhecia. Um homem olhava-o diretamente nos olhos, pelas feições, mulhorandi.
Ele diz, Barduk sabia que não era consigo, mas com a entidade que o "ocupava", uma lembrança vivida com intensidade brutal:
- O lugar de um sacerdote... de joelhos ante o teu Deus.

A mão do faraó brilha como se o próprio Sol delas emanasse, e aponta pra você, que sente os olhos arderem.
No momento seguinte, sente as águas misteriosas do Rio Stirge, do qual somente os mortos conseguiam fazer a travessia. seus pés tentam seguir caminho, vendo os SEUS martelantes seguindo à frente. Toda a dor e tristeza retornam. Sabia que a paz e as respostas estavam na outra margem...

"Não!!"

O rio esbraveja, a correnteza aumenta, levando-o de volta à margem oposta.
Força a caminhada, tenta correr, pular, nadar... mas a exaustão o faz firmar os pés e se levantar, apenas para ver que não havia se movido um só centímetro além da margem de onde vinha.

Então...

- Eu vivi a servidão do clero, orei em cada alvorecer, aceitei todas as incumbências e vivi em servidão e sacrifício. Mas quando mais precisei, eu duvidei.

Barduk vê a figura enorme passar bem ao seu lado. Mas ao contrário do general, a criatura podia ir e vir entre as margens, ou ao menos sentia que poderia. Mas ele não ia. Ele poderia seguir os passos dos seus, escolher o caminho do Além-vida... mas simplesmente não o fazia e isto o agoniava. Praticamente queria empurrá-lo, queria jogá-lo em seu caminho natural. Mas ele parece antever sua intenção, e diz:
- Eu levei meu coração morto, no jarro sagrado, embalsamado, e o entreguei a Osiris. Era minha passagem, minha Glória final. Mas ele disse NÃO! Ele me negou a eternidade e o paraíso. Ele não me deixou pesar meu coração, que se desfez em poeira. Agora estou preso entre os mundos, podendo atravessar mas nunca deixar o Stirge. E foi por isto que o ajudei. Um mal como aquele faz o mesmo que eu, exceto que ele vive pra se alimentar, sempre um parasita que sonha ser um Rei. A força dele era muito maior que a sua, mas da mesma forma, ele era incrivelmente inferior a mim. E então eu percebi. Foi por causa DELE!!

A última palavra sai com tanta ira que Barduk sente as mãos queimar e a pele aquecer. O ódio que ele alimentava dentro de si era tamanho que evaporava até as águas do Rio Imortal, e o vapor que se erguia era sua arma de danação, mas também sua corrente.

A visão escurece, uma tumba, um corpo embalsamado. Reconhece o lugar. Reconhece a caligrafia, e também a máscara de barro em forma de chacal que vestia o corpo mumificado. A cerimônia começada por Wong... a máscara presenteada por Gurag... E então, quando a porta se fecha, veios negros brotam na pele mumificada, e sangue escorre das fendas na parede, de cada símbolo entalhado pelo monge.
Imediatamente reconhece o cheiro podre da aberração. O monstro... o Demônio em forma de Goblin surge ao lado da múmia e profere palavras profanas. Tentava corromper o funeral. Barduk não era familiarizado com as Leis do outro mundo Mulhorandi, e novamente percebendo a dúvida, a criatura preenche suas dúvidas:
- QUARENTA dias!!

Barduk sabe que este era o tempo que a múmia deveria ser deixada intocada. Mas o goblin-monstro profanou o cuidadoso ritual muito antes.
A grafia nas paredes mudava, se corrompia.

Então Barduk sente medo... O rosto de chacal de barro se move. A Múmia se senta, arrebentando as bandagens.
O goblin recua, estava verdadeiramente assustado.
Uma voz nefasta fala na sombra da pequena criatura:
"Este corpo não está vazio."
Goblin: Acha que não estou vendo?

Barduk reconhece nas sombras a voz do demônio, e percebe com assombro que, pela primeira vez, estava diante da figura que realmente o controlava.

A Múmia se levanta, estende a mão para o goblin, que parecia vomitar uma densa névoa escura e fria. Mas ao perceber que ela se espalha até os pés da múmia, mas nada lhe causa, o medo torna-se evidente no pequeno goblin, cujo rosto torna-se demoníaco e medonho.
O demônio ordena:
"Eu posso enfrentá-lo. LIBERTE-ME!!"

O goblin parecia prestes a fazer um encantamento, quando a múmia, com agilidade, faz um sinal com a mão, e a testa do goblin queima, quando uma runa celestial brilha e ali se grava na carne obscura da criatura, que grita em agonia.
No momento seguinte, a tumba estava vazia. seus olhos encontram a Múmia do lado de fora, segurando um pequeno jarro, que pendia da mão.
Mas a voz que lhe fala estava bem ao seu lado:
- Temendo pelo meu corpo, eu violei o ritual e tornei a vesti-lo. E quando busquei meu coração, quando tentei seguir o meu caminho... restava apenas pó.

A múmia deixa cair o jarro, que se quebra. Dentro, apenas areia.

- Foi então que aceitei minha punição. Eu violei a LEI, e Osíris recusou minha passagem. Portanto devo permanecer entre os mundos, uma alma-penada como tantas patrulhando o Stirge. Aqui é o único lugar onde posso pisar novamente a margem porque foi aqui que eu morri. Osíris me permite ver o meu erro, e testemunhar a minha morte tantas vezes quanto eu quiser como castigo por ter quebrado a sua LEI. Agora eu sou um monstro combatendo Monstros. Por você, tive minha Justiça. Por você, eu matei aquele que tentou me violar, e que despertou o meu Medo. Que me fez cair em desgraça. O Mal não mais pisará em Boven enquanto eu patrulhar estas terras. E eu não vou assombrá-lo, General. Não é o que eu sou. Mas se sonha com os Seus seguindo pelo Stirge, talvez sua própria alma esteja amargando alguma culpa. Alguma falha pessoal da qual se julgue indigno, e o atormente fazendo-o ver seus homens perecendo como eu sou forçado a ver minha própria desgraça se repetir, noite após noite, dia após dia.

A criatura estende a mão, e Barduk vê um bracelete espiralado em forma de serpente, um adorno de ouro com inscrições mulhorandis, desaparecer de seu pulso cadavérico e aparecer no seu próprio. Sentia-o quente ao toque.
- Eu falhei com meu Deus, mas não falharei com você, general. Por esta moeda, poderá atravessar o Rio Stirge UMA ÚNICA vez, e trazer a alma de um ente querido de volta ao mundo dos vivos. Esta é a minha promessa. Como gratidão por ter me dado minha JUSTIÇA.

A última palavra sai tão rancorosa quanto o ódio que sentia pelo demônio e pelo goblin, seu mandante.
A resposta de suas preces, o rosto do verdadeiro inimigo, estava nas Tribos Goblinóides.
Então as peças começam a se encaixar.
* Drows que buscavam algo nas Terras Ermas, governadas por hordas goblinóides;
* O demônio carregava as cabeças daqueles que vocês pensavam ser seus mestres;
* A conformação dos mortos, entre tantos desaparecidos;

Nada mais restava nas montanhas. NADA que pudesse alçá-lo neste momento. Sem saber QUEM era aquele goblin, ou sequer a identidade do demônio e como repeli-lo, seria apenas levar mais homens à morte.
Era hora de seguir o conselho de Dorin, fortalecer suas alianças e consolidar seu território. Pois o inimigo faria o mesmo.
E um embate era emergente. A qualquer instante.

*ouve cada palavra e tenta manter-se calmo. Precisava daquelas informações, o que recebia era de extrema importância. Alinhavava os fatos, juntava os pontos e desatava alguns nós*
-este goblin e seu demônio causaram mais estragos do que poderia imaginar. Fico feliz que de alguma forma pude ajudar, preferiria que o ritual de sua passagem tivesse funcionado. Conheço pouco de sua cultura mas sei que grandes deuses costumam repensar sobre suas sentenças quando guerreiros valorosos jogam suas cartas de forma plena. Rezo para que tenhas o descanso dos justos e para que me ajude mais, como está fazendo agora.

*intrigado*
-aceito sua oferta de bom grado, será duro escolher um entre tantos, mas certamente farei uma boa escolha.

A resposta é um silêncio, cortado unicamente pelo som dos passos nas águas do rio Stirge, conforme o ser se afastava.
O som fica difuso em seus ouvidos, e quando Barduk acorda do que parecia ser uma espécie de transe, ouve o mesmo som à sua volta. Passos nas águas calmas... era o som de seus pés na tina d´água.

Havia muita coisa pra fazer, muitos a comandar, espalhados por toda região.
Tanto ainda a alinhar, e nenhum tempo pra isso.
Mais do que nunca em sua vida, precisaria confiar em seus comandados, formar forças coesas e mandá-los desatar os últimos nós desta trama, enquanto você preparava sua partida para o centro do poder em Cormyr.
Dorín parecia bem informado, talvez o tempo junto a Michael tenha lhe rendido orientações e caminhos pelos caminhos burocráticos da realeza. mas sabia que ele também tinha suas urgências, sua própria força-tarefa estava espalhada.
Percebia como o drow parecia ter espalhado tanto seus homens que não lhes restava qualquer coesão de forças ou missões a cumprir, um líder que dá tantas ordens a tão poucos, e depois ele mesmo se envolve nas próprias tarefas... um verdadeiro caos de comando. Delegava e seguia à frente, interferindo. Por isso seus homens de confiança já não confiavam tanto.
Mas assim eram os drows, sempre individualistas. Talvez o tempo juntos lhe inspirasse o desejo pelo controle dos seus, mas sua natureza insistia em brotar e falar mais alto, mesmo que ele dissesse o contrário. O próprio More ainda tinha muito a aprender, como até mesmo Barduk percebia suas próprias falhas, e se moldava à nova realidade de suas tropas.
Mas o general tinha a vantagem de que a maioria daqueles que o seguiam compartilhavam laços de fé, o que tornava a lealdade mais fácil. More, por outro lado, não sabia nada daqueles que o seguiam, e chegavam até ele, já tendo inclusive abrigado espiões e assassinos que tanto interferiram com as ações do grupo, rendendo-lhes a má reputação que barduk agora precisava resolver.
E percebia ainda uma confusão de identidades. Barduk não liderava apenas uma elite de sua raça, os Martelos das Almas, mas também um grupo completamente esparso e individualista de aventureiros que não lhe prestava contas de seus passos, tornando a região tão ameaçada.
Percebia a extrema sorte que teve ao enfrentar o demônio, mas ao custo de muitas vidas, incluindo quase toda sua própria elite, os Martelantes.
Nem sequer sabia quantos, ou SE ainda estavam vivos.
era hora de barduk fazer o que mais detestava ter que fazer, desde que assumiu como Capelão em Gauntlgryn. Fazer e SEGUIR uma AGENDA.

Off: Pra evitar confusões com os nomes, mudei Dorin pra Dorín (com acento), enquanto o martelante chama-se Dórin. Uma mudança sutil, mas que vai resolver muita confusão.

*O anão levanta da cadeira e sai andando com os pés molhados até onde Michael e Dorín estavam*
-vou seguir a Gauntlgrym de onde pretendo dar as últimas ordens aos meus homens. De lá a Arabel, onde tenho poucos, mas bons aliados e com certeza informações e então a Suzail antes que Cormyr cometa a besteira de enviar seus homens a mim enquanto o próprio mal corrói a côrte diante de seus olhos. Michael se não for te exigir demais, gostaria de sua ajuda para encurtar estas distâncias.

<off> a agenda está feita <off>

Dorín se prontifica a acompanhar Barduk até que tenha alguma notícia de sua própria força, desaparecida no mithal das montanhas, um mistério que ainda precisará ser desvelado.

Michael aceita ajudar, mas diz que tem um assunto urgente a tratar antes de partirem. Ele os deixará com a cabana à sua disposição naquelas terras, e diz que só voltará no dia seguinte.
Suas palavras são: "Tenho que aplacar a fúria de uma certa maga, antes que ela traga um esquadrão de soldados para lhe dar voz de prisão."

-certo faça o que tem de fazer. Preciso pensar. Há muitos buracos na história que se constrói. Você sabe algo sobre a influência zentharin em Gauntlgrym e Boven?

Michael coça a cabeça, dizendo:
- O que sei é que os zhentarins sempre tentaram influenciar Cormyr, agindo pesadamente em seus arredores, o que inclui pesados acordos diplomáticos e mercantis, principalmente, com Sembia. Mas agindo DENTRO do reino, desconheço.

Enquanto conversavam, uma catinga familiar vem trazida pelo vento. Um cheiro horroroso que Barduk conhecia bem, e só piorava com o passar do tempo. Mas não sabia ao certo se era bom ou ruim tê-lo por perto, agora.
Na estrada, avista Henri vindo montado em Algoz, e ao lado dele a figura encardida de Bhark, que pra variar carecia urgentemente de um banho. Quase podia ver as plantas se dobrando em sua passagem.

-uma última pergunta.
*coloca o escudo sobre uma mesa próxima ao mago*
-o que você pode me dizer sobre este escudo
"Antes que a carniça figue impregnada nessa tenda"

*Bhark e Henri? Fico feliz que esteja montado em algoz e não em uma lança. Mas onde está o drow? As coisas estão estranhas."

Michael reage quase imediatamente, dizendo:
- UAU, quanto feitiço numa única peça. Não quero saber como encontra estas preciosidades, mas este aqui em particular é dos grandes. Preciso identificá-lo melhor, mas cada uma das gemas tem poderes próprios. Se quiser, depois que eu voltar deixe-o comigo que o estudarei com mais cuidado.

Arregalo os olhos e enquanto via o anão, desmonto de Algoz e bem sério... Devagar....
E como quem não acredita põe o dedo bem devagar em Barduk na frente, do lado, nas costas e passo a mão na barba!
Ainda com a boca aberta sai:
- O que aconteceu?
- Pensei que você está empalado, também!
Só então voltando a si!
- Desculpe, tenho algumas informações...
- Não encontramos More, ainda deve estar perdido no Mithal e só Lachesi vai poder libertar todos, ele é o único que conhece a língua do Mithal, nem mesmo Finn, aquele elfo (em um tom raivoso), quem me passou essa informação foi um tal de Nigel inquisitor de Tyr!
- Essas são as informações que tenho!
Agora paro pensativo na frente do general.
- E o que houve, tentei voltar pra te informar mas tinha o que parecia uma muralha de areia e tivemos de dar a volta!

Era quase ridículo ver a imundice encarnada em Bhark andando com uma pequena jóia orbitando sua cabeça. Mas barduk se lembra do apreço do battlerager pela peça, um presente de Gurag, e sabia que não seria bom fazer troça, ainda mais sem saber como estava o humor do fedorento. Algoz se afasta de bhark, visivelmente incomodado pelo cheiro, e barduk se lembra do desertor de suas forças que foi ameaçado pelo bárbaro após segurá-lo para um banho forçado. Temia perder mais alguém, mas tinha certeza que um banho era urgente, pois o cheiro do battlerager o anunciava à distância.

*vendo como Michel havia se encantado pelo escudo, imagina que haveria muita história e conhecimento por trás de tanta beleza*
-é claro Michel, tive visões onde usava este escudo, mas não sei ao certo o que era presente e o que foi passado.

*Barduk estava sério, visivelmente cansado e abatido. Havia acabado de acender seu cachimbo e dados as primeiras pitadas. Michael podia ver na expressão do anão, pelo pouco que o conhecia que havia mais em suas palavras do que elas realmente diziam*

*ao ver a aproximação dos dois o anão fica ainda mais tenso, no mais absurdo dos silêncios poderia se ouvir o ranger dos dentes*

-o que houve? Pfff
*a intenção do anão não era das melhores mas tenta se acalmar, de nada adiantaria sua fúria agora. Guarda as palavras, ainda amargava a derrota. Era bom saber que ao menos dois dos seus estavam vivos bem a sua frente*

-o que houve foi uma tragédia anunciada. Há Zenths espalhados por todos os lados. Minha presença se faz mais do que urgente. Partiremos para Gauntlgrym imediatamente passando por Lakeheaven.

*olha então para o anão*
-se dissesse que bons ventos lhe trazem eu estaria mentindo hehe, mas imagino que os ventos que te anunciaram também presenciaram a maestria anã e as glórias concedidas a Clanggedin, irmão.

*estende o braço ao anão para um cumprimento, ainda que a distância, já preparado para caso Bhark o tentasse agarrar. A mera lembrança de Gurag aperta ainda mais seu coração. O escudo e o cristal estavam com seu pai, mas nem sinal do casca de orc e sua armadura*.

Como se profetizasse, a mão mal toca a do bárbaro, ele o puxa para um de seus intensos abraços, e Barduk quase percebe as pernas do battlerager cederem ao cansaço. Sabia do apreço do anão pelo "seu General", lembrando ter sido ele o primeiro a dar-lhe o título. Mas não esconde o desconforto ao sentir os pedaços de inimigo que Bhark levava sobre a pele, como de costume ao sobreviver a uma de suas famosas "matanças".

Presto atenção no General e fico ali no aguardo, mas vendo que Barkh o abraça vou para perto de Algoz com uma expressão de nojo e quase vomitando.
Mas tento manter a postura e também precisava de um banho!

*Barduk retribui o abraço e segura firme o anão deixando-o de pé*
-Michael faça seu servo providenciar comida, roupas limpas e um bom banho pra este batlerager. E depois cama.

*olhando sério para o anão já sabendo que iria negar o banho até a morte*
-E isto é uma ordem soldado. Quero você de pé ao amanhecer e não desejo que nossos inimigos antevejam nossa chegada.

-Henri a você também, as instalações de Michel são generosas e vão nos abrigar até a partida. Algoz está livre para caçar se assim desejar, mas ao amanhecer esteja aqui para seguirmos viagem.

*o anão estava às voltas com tudo que acontecera, mas até que a prova aparecesse na sua cara o drow ainda era membro de sua comitiva e seu desaparecimento não parecia ser normal*

Magia mensagem - para More

-estamos partindo para Gauntlgrym ao amanhecer. Sofremos uma emboscada, quase todos morreram, mas finalmente o inimigo foi revelado. Passamos em Lakeheaven antes. Você vivo?

Bhark estava tão cansado que era como se o cansaço o possuísse, quase palpável.
- Cansado... muito cansado...

Barduk estranha que não tenha recusado o banho. Mas as placas de imundície e pedaços de tripas iam caindo a cada passo. Talvez ele também tenha enfrentado seus demônios nos últimos dias.

Michael diz:
- Bem, Barduk, deixo a cabana pra vocês, volto ao amanhecer. Espero que possam descansar. Meu servo estará ao seu dispor neste tempo.

Ele tira da bolsa uma adaga e desenha no chão um pequeno círculo, colocando em seu interior um pouco de sai e enfim desenhando runas ao redor.
Por fim, ele diz:
- Voltarei neste mesmo lugar. Apenas tome cuidado, há elfos por toda parte, nada amistosos como pôde perceber.

Ele dá um passo para dentro, mas antes que seu pé tocasse o chão, já havia desaparecido.