Libertando Boven - Talluryen!!

Talluryen se aproxima devagar.

- Desculpe a aparição repentina. Será que... Posso falar com você?

Ela parecia um pouco desconcertada. Talluryen fazia ali algo muito difícil, admitir um erro a um humano. Os elfos do sol sempre se consideravam superiores, mas ela tinha como propósito em suas viagens provar que poderia ser diferente, que os elfos poderiam ter relações melhores com as outras raças. Não era fácil, caminhar em terras onde se era apenas uma forasteira.

Ele diz, calmamente:
- Se conversar não envolver espadas, é bem-vinda.


Ele aponta a cabana, e o cão late mais algumas vezes, um latido alto e chato que parece cortar a noite, entrando desaforadamente.

- Não, não mesmo...

Talluryen engole em seco e entra na cabana indicada pelo rapaz. Após ele entrar, ela para em frente a ele.

- Repensei tudo o que houve agora com a cabeça fria e reconheço que não foi certo o que fiz com você. Eu estava assustada, vi coisas horríveis nesta vila, coisas difíceis até de descrever... Quando Nardin sumiu, eu pensei o pior, então teve o fogo, os corvos... Por favor, perdoe minhas atitudes. - Ela faz uma reverência com a cabeça. - Entendo agora que fui egoísta e arrogante, não pensei nas consequências, pensei apenas no que eu queria.

Ela levanta a cabeça, olhando nos olhos do aprendiz.

- Eu estou aqui para ajudar a restaurar a paz, não para assustar as pessoas e ferir quem não merece. - Ela olha para o joelho dele, onde deveria estar a cicatriz.

A cabana era pequena, apenas dois cômodos bem modestos. Uma sala com um pequeno sofá e algumas cadeiras, e uma mesa de ofício num canto. Pareciam ferramentas de carpintaria.

Havia sim uma cicatriz ali, onde a calça estava rasgada. Mas ele não parecia se incomodar ou se importar. Já estava curada.

Ele diz, num tom calmo. COMPLETAMENTE diferente de antes,d e quando usava a máscara, um personagem, talvez:
- Ninguém chega à Boven sem ter visto horrores inigualáveis. Mas pense nesta gente que da noite paa o dia viu uma matilha de lobisomens se instalar e transformar toda a vila, forçando famílias inteiras a lutar entre si por mero divertimento?!


Ele aponta o sofá, voltando a um pequeno fogareiro onde havia uma chaleira começando a apitar.
Então continua:
- Depois vieram os orcs, acima dos monstros, dominando cada licantropo com a força dos guerreiros chamas-rubras. E pra cada lobo oprimido, ele descontava na população recém escravizada.

Ele preparava um chã, colocando algumas ervas em infusão. O cheiro era delicioso.
Continua:
- Então, aventureiros afugentaram tanto os orcs quanto os lobisomens. Um desses aventureiros deu cabo da ALFA dos monstros. E tornaram-se heróis. PROTETORES da cidade. Um deles, um maldito drow, trouxe outros para a vila. Os colocou sob sua proteção. E o que eles fizeram?

Talluryen senta no sofá interessada no assunto.

- O que eles fizeram?

Ela iria procurar pelos tais Protetores no dia seguinte, saber mais sobre eles seria interessante.

- O que drows fazem melhor. MATARAM metade da vila. Conjuraram um poderoso demônio onde estavam alojados e dali saíram destruindo casas e assassinando pessoas. Se não fosse uma ordem de aasimares, talvez não tivesse restado nada de Boven. Casas foram derrubaras e uma avenida inteira foi salgada e purificada. E uma vez mais as famílias tiveram razões para lamentar.

Ele lhe serve uma das canecas.

- Então, o drow desta companhia de aventureiros fez o pior. Levou os poucos drows sobreviventes desta afronta para VIVER perto de Boven. "Paz", ele dizia. Pois nosso lorde e seus caçadores quase lhes mostraram a "Paz" que mereciam. Foram caçados e expulsos das terras. Fugiram como covardes para o Norte, pra baixo da saia dos protetores. Eles que cuidem dos problemas que atraem. Drows não são bem-vindos em Boven. NENHUM deles.


Ele pega outra caneca e coloca diante do sabujo, que resmunga.
- Pois pare de reclamar e tome seu remédio. Seu rabugento.

Talluryen se impressionava com a história.

- Meus deuses... É ainda pior do que eu imaginava.

Ela achava intrigante que um dos "protetores" da região tivesse acabado por trazer mais inimigos. Uma escolha errada? 

- Não havia um elfo de Evermeet nesta companhia?

Zach senta numa das cadeiras e diz:
- Eu soube que sim, mas nunca o vi. Dos protetores, ouvi falar deste drow desajustado que pensa que é um elfo, e seus líderes, Gurag e Barduk. Dois guerreiros ferozes, cada qual em seu estilo. Sei que em HeavenLake há vários elfos.

- Teoricamente, drows são elfos. Como qualquer raça tem bons e ruins, talvez a maioria ruim, mas não há como julgar a todos como se fossem iguais. Conheci drows de muito valor em minhas viagens.

Até mesmo em Boven Talluryen recebeu a ajuda de um drow. Mas como o rapaz disse que drows não eram bem vindos, achou melhor nem mencioná-lo.

- Como você se chama?

Ele coloca um pano sobre a cabeça do cachorro para que aspirasse os vapores do chá, e responde:
- Pode me chamar de Zack. É como as pessoas daqui me conhecem.

Ele diz, acariciando o cão de cara coberta:
- Um resfriado bravo. Esse saco de pulgas (o cão resmunga) só chora desde que seu antigo dono morreu.

- Sinto muito... Bem, já está tarde, não quero tomar mais seu tempo. - Ela se levanta. - Zack, obrigada por permitirem que Nardin voltasse a vida. Estou em débito com você e, no que precisar, em poucos dias estarei de volta a Boven. Prometo desta vez não fazer mais nenhuma estupidez.

Ele ri e diz:
- É só não trazer mais mortos escondidos. Hahaha!! Esta gente já sofreu demais, e só o acaso os mantém em suas casas, quando seu desejo mais desesperado é fugir daqui. Boven mingua mais a cada dia, deixou de ser o lar de diplomatas de outros tempos.

Ela fica pensativa...

- Zack, o que pode ser feito por estas pessoas? Este lugar vai sumir se continuar assim. E na verdade ele é uma ótima rota. Por que você não constrói um templo aqui? Temos o santuário de Selune. Mas acredito que Kelenvor deve acalentar o coração daqueles que perderam suas famílias. Talvez isso lhes dê força, força para lutar por esse lugar.

Talluryen via as coisas de outra perspectiva. Zack não parecia a mesma pessoa que a assustava poucas horas atrás. Sua esperança se renovava.

Ele diz:
- Uma vila com dois templos é demais. Para que Aelynn se instalasse precisamos que três clérigos concordassem com sua presença, eu, ela e Natalie, que você ainda não conheceu. A sacerdotisa de Mystra tem ajudado Aelynn a consagrar as terras de seu altar. As pessoas verão este lugar como um porto-seguro. Se Kelenvor erguer um altar, seremos vistos como mau-agouro. Eu só estou aqui pra proteger o cemitério... (o cão espirra por baixo do pano) Saúde, amigo. Bem, depois que Ben, um médico e druida local foi morto, eu me instalei pra cuidar do cemitério. Se estas pessoas ficarem, alguém tem que cuidar dos ritos funerários daqui. Mas se forem embora, alguém terá que prevenir que os mortos façam o mesmo e se levantem pra sair por aí.


Ele recoloca o pano sobre o cão, dizendo:
- Não seja malcriado. Ainda não terminou o seu remédio, amigão.


Ele volta a se sentar numa das cadeiras tomando um pouco de chá de uma caneca, e diz:
- Se quiser ajudar esta gente, tem que preparar os protetores para voltar. Pois muita gente tem passado por Boven, mas seguido até o lago. Os Protetores os chamaram, devem ser eles a convencer os novos negociantes a ficar. Ou só vão levar embora os poucos recursos que restam em Boven.

- Entendo. Então estou partindo procurar os Protetores. Obrigada pela conversa e me desculpe novamente.

Ela se despede com a cabeça e olha para o cão.

- Melhoras para ele.

Ela dá um sorriso gentil, mas cansado. Enfim se vira para a porta para finalmente ir descansar.

Pra onde vai? Santuário ou taverna?
Seja como for, fim de noite tranquilo.

Taverna.

Ações por sua conta, para encerrar a noite e começar o novo dia.

O salão estava vazio, à exceção de alguns boêmios.

Talluryen vai para o quarto descansar. Já deixa tudo pronto para partir no dia seguinte.

Pela manhã (descrições de rápidas ações por sua conta), o dia estava claro. Mesmo tendo dormido o sono tranquilo dos elfos, foi uma noite agitada.

Uma rápida passada pelo santuário selunita, pela manhã estava aberto no salão. Nardin ainda descansava, e Durlan montava guarda.

Diante do lugar, os dois jovens monges ainda meditavam na beira da rua, e Boven ganhava algum movimento.
Alguém (um arauto, talvez) vem anunciando a aproximação de uma caravana. A primeira em muito tempo, deixando muitos alvoroçados, e outros, ressabiados.

Aelynn não estava. Quem cuidava do santuário era um meio-elfo da lua, cabelos pretos e olhos azuis, marcados por pontinhos amarelados.
Seu nome é Ávis, e todas as manhãs era quem cuidava dos afazeres na construção e manutenção, intercalando com o casal que conheceu na outra noite.